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A terra dos cajús. [Tony Casanova]


Quando cheguei a Aracaju, éramos meninos eu e ela. Como bom observador pude ver a cidade com olhar calmo, atento aos detalhes. Não havia muito progresso na época, as edificações eram antigas, muito barroco, ruas em paralelepípedo, poucos veículos. A arborização era farta, muitos pés de oitís, praças enormes no centro. Eu costumava ir ao Parque Teófilo Dantas ver os animais que haviam. Os mais espreitados eram os bichos-preguiça, lentos e com aparência cansada eles subiam até a copa das muitas árvores do parque. Ali próximo, na Praça Olímpio Campos, era possível encontrar muitas variedades de frutas como sapotís, oitís, mangas, cana-de-açúcar, fruta-pão, goiabas enfim, uma enorme quantidade delas eram vendidas por pequenos comerciantes e consumidas ali mesmo pelos visitantes. A Aracaju de hoje não se compara aquela do passado, principalmente em época de Natal. Eu ficava parado em frente a Catedral Metropolitana que fica até hoje no Parque Central, observando o vai-e-vem das pessoas procurando diversão no evento montado especialmente para a ocasião. Haviam muitos brinquedos infantis, barracas de lanche, decoração natalina especial e papai noel que dava pequenos presentes á crianças. Eram muitas famílias reunidas, confraternizando, gente alegre, sorridente passeando com seus filhos, sobrinhos e netos. Saindo dali eu passeava no umbral das margens do Rio Sergipe, na Rua da Frente, como era conhecida a Av. Beira-mar de hoje. Olhava o mar encontrando-se com o rio, os coqueirais da Ilha de Santa Luzia, a nossa Barra dos Coqueiros. Tudo era um encanto. Lá na Barra dos Coqueiros havia(e ainda há) a famosa praia de Atalaia Nova, com suas águas bravias, profundas, mas com uma vista deslumbrante dos coqueirais do local. De lá avista-se o mar aberto até o horizonte onde o céu beija as águas. Um espetáculo maravilhoso! Seguindo pela Rua da Frente dava para avistar a Capitânia dos Portos e suas pequenas instalações, o Iate Clube de Aracaju e a extinta casa de Show Cotinguiba. Lembro dos vários almoços que fiz no Carinhoso Crase, um restaurante ali próximo. Nesta época haviam muitas matinês dançantes promovidas pelo Cotinguiba na Boite Mix Som, Clube dos Trabalhadores, Clube do Vasco, SESC, Associação Atlética, Clube do Banese, Petro Clube e várias outras casas do gênero. O Carnaval era muito animado, reunia muitas famílias e tinha um gostinho muito parecido com os Carnavais de Olinda, muito tradicionais. Era possível brincar em segurança com os filhos, parentes e amigos. Nestas ocasiões acontecia na Associação Atlética vários concursos alusivos á data, como melhor decoração, fantasia, bloco e muitas outras atrações familiares. Ainda haviam os tradicionais Bailes de Carnaval. Houve até uma época em que tínhamos desfiles de escolas de samba com direito a alegoria e tudo. Assim era a menina Aracaju, que a noite parava para seu povo descansar e nas ruas apenas casais aproveitando os momentos, pessoas procurando diversão adulta e outras procurando um dos vários cinemas que haviam. Lembro-me do Cinema Vitória, do Aracaju ambos no centro da cidade,o Cine Vera Cruz e o Plaza no bairro Siqueira Campos. Aos domingos as praias ficavam lotadas em toda sua extensão desde a Praia dos Artistas até a Aruana, mas o espaço mais popular e mais concorrido sempre foi a Praia de Atalaia. Ali fazia-se lanches nas diversas barracas estendidas ao longo das areias e podia comer de tudo. Queijo coalho assado na brasa, acarajés, peixe frito, amendoins, castanhas, caranguejo e camarões. Lá existia o imponente restaurante O Tropeiro que ficava bem em frente ao Hotel Beira-mar, ambos considerados pontos atrativos da Praia de Atalaia. Assim era a Terra dos Cajus, Aracaju oriunda da vastidão de cajueiros e da farta população de Araras, cidade litorânea, povo hospitaleiro e localização privilegiada. Por ser tão meiga, acredito que Aracaju será sempre uma menina sempre linda com os cabelos ornamentados com flores de cajueiro.

Texto do Escritor Brasileiro Tony Casanova. Direitos Reservados ao autor. Proibida a cópia, colagem, reprodução de qualquer espécie ou divulgação em qualquer meio, do todo ou parte dele sem autorização expressa do autor sob pena de infração ás Leis Brasileiras de Proteção aos Direitos Autorais.
Copy Right 2014 by Brazilian Writer Tony Casanova.

2 comentários:

  1. Conhecendo um pouco de Aracaju, através de sua página. O Brasil tem lugares lindos e aprecio muito a cultura popular, nem sempre muito contada.
    Parabéns, Tony, amei conhecer, através de seu texto muito bem escrito.

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  2. Leh ou Helena querida, muito obrigado pela gentileza da sua visita que é muito importante para mim, além é claro, dos comentários elogiosos. Teu espaço também é muito lindo, parabéns. Beijo carinhoso e aproveite para conhecer Pura Cultura, meu espacinho de trabalho.

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